terça-feira, 28 de julho de 2009

Boris casoy ataca o sistema de cotas

Ontem à noite fomos premiados com mais um comentário no mínimo discutível de Boris Casoy. No jornal que apresenta na Band, Casoy se colocou contra as cotas étnicas e sociais por considerá-las uma injustiça para com aqueles que têm o que ele chamou de “mérito” que, ainda segundo o âncora, se prepararam melhor. Sou obrigado a concordar que o sistema de cotas sociais e étnicas realmente rompe com certa meritocracia, mas não posso encarar isso como sendo negativo.

Em primeiro lugar, o sistema de cotas sociais é uma necessidade devido à deficiência gritante do ensino público brasileiro. É a solução para o problema? De fato, não e não pretendo que seja. Porém não podemos deixar de encarar a questão das cotas como uma estratégia de gestão de crise, e não como solução. As pessoas que estudaram em escolas públicas não podem esperar até que a defasagem da educação seja solucionada para ingressar num curso superior. Há necessidades prementes que precisam ser atendidas até que o problema seja devidamente solucionado.

A questão das cotas étnicas é diferente, mas não muito. Ressalto que a relação entre o étnico e o social no Brasil é muito complexa. O histórico de escravidão e de posterior abandono das pessoas negras e seus descendentes à própria sorte, numa sociedade com um tipo de preconceito dificílimo de lidar (o preconceito de não ter preconceito, de acordo com Florestan Fernandes) acabou gerando uma população de afro-descendentes subempregados e pertencentes às camadas socialmente inferiores. Se é fato que há vários afro-descendentes nas classes médias e altas da população, também é fato que os há em muito maior número entre as camadas inferiores. Assim, a validade das cotas étnicas acaba se estabelecendo por motivos parecidos aos explicitados no parágrafo anterior. Trata-se de gestão de crise.

E já que citei a questão da escravidão, o sistema de cotas trata-se também de uma tentativa de sanar a dívida histórica da sociedade para com os negros e mestiços, além dos povos indígenas.

Assim, um comunicador e jornalista do calibre de Boris Casoy precisa estar mais atento às questões envolvidas neste problema antes de repudiar o sistema de cotas publicamente como fez ontem, especialmente pela apresentação de motivos como a defesa (ainda) do “mérito”.