segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

(DES)ENGANOS EM SÉRIE

Semana passada, assisti a um episódio do documentário seriado Lutas.doc, exibido pela TV Brasil. O assunto girou em torno de como a televisão acomoda as pessoas com relação a sua própria condição social. Várias personalidades deram sua opinião e todas elas pareceram concordar em alguns pontos: a televisão é enganosa, não mostra a realidade e, do modo como é feita contemporaneamente, é nociva.

É claro que a TV, do modo como se apresenta, está longe de me agradar, conforme mostram os outros textos desse blogue. Mas pareceu-me que muito mais enganosa que a televisão são as bases em que foram desenvolvidas as críticas feitas no documentário. Vejamos, então: vamos pensar na noção de realidade.

Muitas tentativas foram feitas de se responder à questão básica: “O que é realidade?” Entretanto, parece-me um grande engano considerar o que chamo de “realidade real”, também chamado “realidade objetiva” (o que acarretaria outros problemas: o que é objetividade? É ela possível), como a única realidade possível, ou como a única realidade que realmente importa. Por que, afinal de contas, nem mesmo essa realidade pode se dar a conhecer sem as ficcionalizações proporcionadas pelos nossos sentidos. Explico: todo mundo já ouviu falar em ilusão de ótica. Pois bem, esse é talvez o exemplo mais claro para demonstrar que nossos sentidos não dão conta da realidade como ela é, mas que eles mesmos são formas de ficcionalizar uma realidade. Pensar nesses termos desloca a importância da realidade dita objetiva. (É claro que a questão vai muito além do que expus acima. Mas acredito que, para um texto curto como esse, sejam suficientes essas considerações.)

Daí, surge a pergunta: como se poderia mostrar “a realidade” através da TV, um meio de comunicação que está repleto de ficcionalizações? Se a câmera é posicionada desta ou daquela forma, pode resultar em diferentes interpretações do mesmo fato. Depois há o diretor, o editor, os apresentadores, os atores, cada qual com suas próprias ficcionalizações – intencionais ou não. E, por fim, há as ficcionalizações dos telespectadores. O conceito de realidade se dilui e não faz mais sentido.

Não quero com isso dizer que se deve aceitar a TV como está. Mas as nossas críticas precisam estar bem fundadas, e não ser baseadas em chavões como “Hollywood está se especializando em fazer o mesmo filme, a história sempre se repete” ou “a televisão provoca uma alienação nas pessoas” ou, pior ainda, “as pessoas precisam ser ajudadas...”. Talvez fosse mais interessante pensar em como a televisão engendra novas formas de pensar ou como ela se adequa a esses novos modelos de pensamento, em que o interesse se volta quase que exclusivamente para realidade ficcional. E daí pensar nos efeitos disso na sociedade e no homem. Aí, sim, talvez possamos tentar pensar em como trazer esse interesse para outras realidades. Mesmo assim ainda fica a pergunta: Para quê?

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